Autora: Marina Oliveira Duarte (CRP: 04/48016)
Trabalho com a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) na Paróquia São João Batista, em Belo Horizonte. Trata-se de uma abordagem psicoterapêutica estruturada, que ajuda as pessoas a identificarem e modificarem padrões de pensamento e comportamento disfuncionais, os quais causam sofrimento em suas vidas. A TCC conta com o respaldo de inúmeros estudos científicos que comprovam sua eficácia. Neste texto, compartilharei um pouco da minha trajetória como pessoa humana e como profissional de psicologia.
Durante a graduação, sempre quis atuar na psicologia clínica e, com frequência, me perguntava onde atenderia ou se teria meu próprio consultório. Sempre fui católica e frequento as missas todos os domingos. Em 2015, quando estava no sétimo período da faculdade, o padre Jorge Antônio, da paróquia que eu frequentava, convidou-me para realizar atendimentos psicológicos na Igreja. No entanto, como eu precisaria de um supervisor para acompanhar-me, o projeto não se concretizou. Ainda assim, o desejo de atender em uma Igreja Católica permaneceu vivo em meu coração.
Colei grau em fevereiro de 2017 e montei meu consultório. Fiz parceria com uma colega, mas, por diversos motivos, a iniciativa não deu certo. Fechei o consultório e desisti da profissão. Fechei-me emocionalmente, sentia-me fracassada e sem saída. Para agravar a situação, revoltei-me contra Deus. Culpava-O pelos meus problemas e frustrações.
Afastei-me da Igreja e deixei de rezar. O tempo foi passando, e a frustração por ter me formado em algo que amava, mas não conseguir atuar na área, machucava-me profundamente. Em 2019, resolvi dar uma nova “chance” a Jesus. Ainda não tinha ânimo para ir à missa, mas voltei a rezar e comecei a ler O Diário de Santa Faustina, que narra a devoção ao Terço da Misericórdia. Fiquei encantada com os diálogos que Jesus mantinha com ela e passei a enxergar a fé católica de maneira mais profunda. Passei a tirar muitas dúvidas no Catecismo da Igreja e também recorri aos vídeos do padre Paulo Ricardo, um sacerdote fiel às doutrinas da Igreja. Ele sempre destaca a importância da oração do Santo Rosário e dos Santos Sacramentos.
Em 2020, durante a pandemia da COVID-19, encontrava-me desempregada e em busca de um trabalho. Comecei a pensar na psicologia e isso me causava angústia, pois já havia decidido que não queria mais atuar na área. Mesmo assim, passei a sonhar que estava atendendo. Comecei a ter crises de ansiedade e procurei ajuda. Pedi a Deus que me enviasse uma profissional que atuasse com a abordagem Cognitivo-Comportamental e que fosse católica, pois a profissional anterior que me atendia não era ética e zombava da minha fé, por possuir um viés marxista. Eu desejava poder falar da minha fé nas sessões e ser compreendida. Deus ouviu minhas preces: enviou-me uma psicóloga católica e muito ética. Com apenas dois meses de terapia, decidi tentar retornar à psicologia.
Em 2021, iniciei os atendimentos on-line e, posteriormente, passei a trabalhar em uma clínica. Contudo, o desejo de atender na Igreja continuava presente em meu coração. Visitei diversas paróquias, mas todos os padres recusaram meu pedido. Em dezembro de 2022, saí da clínica. Durante o tempo em que atuei ali, ouvi muitos relatos de pacientes que passaram por experiências semelhantes às minhas, com psicólogos que ridicularizavam a fé cristã.
No início de 2023, procurei outra paróquia. O padre acolheu-me e permitiu que eu realizasse os atendimentos na sala da catequese. A maioria dos pacientes que atendi e ainda atendo agradece e afirma que foi Deus quem me colocou ali. Muitos relatam que sempre desejaram fazer terapia com um “psicólogo cristão”, embora esse termo não exista na psicologia científica. Além de trabalharmos as demandas psicológicas, os pacientes se sentem à vontade para falar sobre a fé e compartilhar testemunhos edificantes. É uma experiência extremamente rica poder atuar na casa de Deus. Sinto-me realizada.
Desde que retomei o trabalho, sempre peço a Deus que esteja comigo nos atendimentos. Frequento a Santa Missa, confesso-me com frequência e rezo o Santo Rosário, pedindo a intercessão de Nossa Senhora para que me conduza a trabalhar com amor e honestidade. Ela sempre me inspira a seguir os passos de Jesus e a praticar o bem. Ao longo da minha caminhada, ouvi de muitas pessoas não católicas que a visão que tinham dos católicos mudou e que não se deve generalizar.
Minha fé ensinou-me que tudo acontece no tempo de Deus e que devemos confiar n’Ele, mesmo quando tudo parece dar errado. Jesus não abandona ninguém. Ele está sempre disposto a perdoar-nos com Sua infinita misericórdia. Deu-nos Sua Mãe na cruz para interceder e nos proteger nos momentos de aflição. Temos o céu ao nosso favor. Sou grata ao padre Jorge Antônio pelo convite que me fez, e ao padre Alexandre Duarte pelo acolhimento.
O trabalho do psicólogo deve sempre respeitar o Código de Ética Profissional do Psicólogo, evitando influenciar ou induzir os pacientes a qualquer tipo de convicção política, religiosa, filosófica ou de orientação sexual. As sessões psicológicas realizadas na Paróquia São João Batista seguem esse código, oferecendo um espaço acolhedor e igualitário, em conformidade com as teorias científicas da Terapia Cognitivo-Comportamental. Sigo firme em minha missão na casa de Deus, como pessoa humana e como profissional de psicologia. Salve Maria Imaculada e Viva Cristo Rei!