A psicologia na Alemanha Nazista, como curiosidades históricas, evidencia a importância de defender os Direitos Humanos. Embora Hitler tenha sido eleito democraticamente pela população, o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores (Partido Nazista) subverteu as instituições do país. Centros acadêmicos, associações profissionais e organismos de saúde foram tomados pela ideologia nacional-socialista. Neste artigo, você conhecerá um pouco das curiosidades históricas da psicologia na Alemanha Nazista.
Contexto histórico e científico da psicologia na Alemanha Nazista
Após a Primeira Guerra Mundial, com a crise econômica e as políticas da República de Weimar, o ressentimento coletivo criou terreno fértil para o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores (Partido Nazista). O partido prometia restauração à Alemanha, com um Estado forte e unificado, políticas públicas de qualidade para alemães, estatização de empresas e luta contra a burguesia e o capitalismo judeus.
Nessa época, a psicologia alemã já se consolidava como disciplina científica, com laboratórios de pesquisa experimental, cátedras universitárias e aplicações em educação, trabalho e seleção militar. A psicometria, a psicologia diferencial e a psicologia do trabalho ofereciam instrumentos de medição e classificação que se ajustaram à ideologia nacional-socialista. Termos biológicos, como “organismo”, “degeneração” e “pureza”, eram utilizados como metáforas para a sociedade: a “saúde da nação”, na qual os “inferiores” deveriam ser higienizados.
Estruturas profissionais e vigilância institucional
A psicologia na Alemanha nazista não tinha um órgão independente (autarquia) que regulamentava a profissão de psicólogo. Contudo, existia um sistema de associações e órgãos estatais que, na prática, funcionavam como mecanismos de controle, vigilância e punição. Carreiras, reputações e financiamentos para pesquisas tornaram-se inseparáveis da ideologia nacional-socialista. Abaixo, algumas instituições:
- Deutsche Gesellschaft für Psychologie (DGPs – Sociedade Alemã de Psicologia) e Deutscher Psychologen Verein (DPV – Associação Alemã de Psicólogos): sociedades científicas que organizavam congressos, publicações e articulação da profissão psicológica. Com o nazismo, sofreram expurgos de judeus e dissidentes, alinharam agendas de pesquisa às prioridades do nacional-socialismo e passaram a atuar sob estreita vigilância.
- Nationalsozialistischer Deutscher Ärztebund (NSDÄB – Liga Médica Nacional-Socialista): a Liga Médica Nacional-Socialista, embora centrada na medicina, influenciava diretamente outras áreas da saúde. A psicologia e a psiquiatria foram forçadas a legitimar políticas eugênicas. Os padrões morais, profissionais e comportamentais foram ditados pelo Partido Nazista.
- Reichsärztekammer (Câmara Médica do Reich) e o Rassenpolitisches Amt (Escritório de Política Racial): emitiam diretrizes “científicas” para a eugenia, impactando avaliações clínicas e testes psicológicos. Desenvolviam políticas e critérios baseados em raças (muitas vezes de forma subjetiva e arbitrária) impondo-os aos profissionais de saúde.
- Gesellschaft für Rassenhygiene (Associação Alemã de Higiene Racial): articulava redes de pesquisa e propaganda sobre hereditariedade, apoiadas muitas vezes por dados psicométricos. A Higiene Racial era uma forma de segregação, na qual profissionais de saúde eram ideologicamente forçados a obedecer à ideologia nacional-socialista.
- Erbgesundheitsgerichte (Tribunais de Saúde Hereditária): instâncias jurídico-médicas que julgavam processos de esterilização compulsória. Testes de inteligência, laudos psicológicos e pareceres sobre “degeneração” foram usados para fundamentar milhares de decisões.
- Reichsministerium für Wissenschaft, Erziehung und Volksbildung (Ministério de Ciência, Educação e Cultura do Reich): interveio nas universidades, promoveu expurgos de contrarrevolucionários e reorientou as linhas de pesquisa. As verbas passaram a depender da conformidade ideológica do nacional-socialismo.
Psicologia na Alemanha Nazista, eugenia e políticas públicas
A psicologia na Alemanha nazista misturava ideologia, pseudociência e políticas públicas. A Lei de 1933 para Prevenção de Descendentes com Doenças Hereditárias legalizou a esterilização compulsória com cirurgias, medicamentos e hormônios. Pessoas classificadas como “débeis mentais”, “epiléticos” ou “doentes mentais” eram submetidas a laudos psicológicos e a testes de inteligência para justificar intervenções reprodutivas irreversíveis.
A psicologia na Alemanha nazista também participava na implantação de políticas baseadas em raça. Na época, praticava-se o aborto compulsório em mulheres consideradas “racialmente indesejáveis” ou “hereditariamente inferiores”. Relatórios psicológicos e sociais ajudavam a hierarquizar famílias de acordo com sua “utilidade” ou “valor racial”. Ao mesmo tempo, proibiam mulheres arianas de promover aborto para “aperfeiçoamento” da nação.
A psicologia na Alemanha nazista também participava na implantação de políticas voltadas para doentes e idosos. A culminância foi o Programa T4 (1939–1941), que sistematizou a eutanásia de pessoas com deficiência intelectual ou doenças graves. Embora médicos tenham sido os principais executores, psicólogos colaboraram em avaliações e triagens, participando do processo que definia quais vidas eram “indignas de viver”.
A psicologia na Alemanha nazista não respeitava os Direitos Naturais, como a individualidade, liberdade, propriedade e vida dos pacientes. A racionalização da eugenia, na área da saúde, era sempre camuflada em propaganda e eufemismo: falava-se em “higiene”, “prevenção”, “aperfeiçoamento”, “desenvolvimento”, “bem-estar social” etc. A preponderância da ideologia nacional-socialista em detrimento da ciência e da ética promoveu as maiores atrocidades.
Psicologia social e propaganda na Alemanha Nazista
O Ministério da Propaganda, liderado por Joseph Goebbels, usou com maestria princípios da psicologia social. Ideias de coletivismo e de pertencimento ao nacional-socialismo conduziram milhões à engenharia social. Essas estratégias psicológicas criaram uma atmosfera em que a adesão parecia natural, ao passo que a dúvida ou o questionamento soavam absurdos. Abaixo, exemplos de aplicação da psicologia na Alemanha nazista:
- Repetição de slogans e simplificação dicotômica: a política se reduzia a “nós contra eles”. Na época, não havia dúvidas de que “nós” (nacional-socialismo) éramos os corretos e “eles” (qualquer pessoa que discordasse) os errados.
- Uso de símbolos e rituais emocionais: bandeiras, hinos e desfiles reforçavam pertencimento e coletivismo ao nacional-socialismo. Se um indivíduo não fizesse parte de nenhuma coletividade (sindicatos, associações etc.), isso soava ameaçador.
- Sincronização midiática: rádio, cinema e imprensa foram controlados de forma centralizada pela ideologia nacional-socialista. A doutrinação política era comum em escolas, faculdades, hospitais etc.
- Mobilização coletiva: comícios e paradas de massa produziam experiências emocionais intensas, dissolvendo o indivíduo no corpo coletivo. A identidade social promovida pelo nacional-socialismo conduzia pessoas comuns ao genocídio.
Denúncias e perseguições internas na psicologia nazista
O ambiente acadêmico-profissional dos psicólogos, bem como de outras áreas da saúde, foi tomado por vigilância, controle e punição das instituições. Professores que não eram membros ou simpatizantes do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores (Partido Nazista) foram afastados, censurados e banidos. Não havia liberdade de expressão, individualidade e autonomia dos profissionais de saúde.
As denúncias entre colegas da área de saúde se multiplicavam: muitas motivadas pelo fanatismo da ideologia nacional-socialista, outras por disputas de prestígio e cargos. Muitos psicólogos foram cassados, impedidos de clinicar ou publicar, presos ou forçados ao exílio. O exercício profissional na área da saúde deixou de ser pela qualidade científica, dependendo da lealdade política e ideológica ao nacional-socialismo.
“Psicologia judáica”, perseguição e exílio
Muitas correntes psicológicas foram censuradas, perseguidas e dizimadas como “psicologia judáica”(Judenpsychologie). A psicanálise freudiana, a Psicologia da Gestalt e outras abordagens eram consideradas um risco à “democracia”. Embora a Alemanha Nazista fosse uma ditadura, acreditava-se literalmente ser uma comunidade do povo (Volksgemeinschaft). Diversos psicólogos judeus e cristãos foram expulsos de universidades, proibidos de clinicar e obrigados ao exílio.
Sigmund Freud, criador da psicanálise, viu suas obras queimadas em praça pública e foi forçado a fugir para Londres. Na Gestalt, Max Wertheimer, Wolfgang Köhler, Kurt Lewin e Kurt Koffka, todos de origem judaica, tiveram que deixar a Alemanha e se exilar nos Estados Unidos. O judaísmo era associado ao capitalismo burguês, à propriedade privada e à degeneração da coletividade nacional-socialista.
Processos psicológicos da colaboração
Vários conceitos da psicologia ajudam a entender como pessoas comuns participaram do holocausto nazista. Para os psicólogos, bem como outros profissionais de saúde, era mais fácil se moldar ao regime nazista do que combatê-lo. Afinal, havia um sistema de vigilância, controle e punição das instituições do país. Abaixo, alguns conceitos psicológicos:
- Dissonância cognitiva (Leon Festinger): para reduzir o desconforto entre valores humanitários e práticas desumanas, muitas pessoas reinterpretavam seus comportamentos como “estou apenas fazendo o meu trabalho” ou “preciso trabalhar para sobreviver”.
- Efeito Lúcifer (Philip Zimbardo): em contextos de forte hierarquia, autoritarismo e totalitarismo, pessoas comuns tornam-se capazes de atos cruéis. Uniformes, rituais e linguagem técnica diluem na coletividade a responsabilidade individual.
- Histeria coletiva / psicose de massa: a propaganda incessante e o clima de medo transformaram crenças delirantes em senso comum. O pertencimento ao grupo majoritário do nacional-socialismo oferecia segurança psicológica mais valiosa que a verdade.
- Obediência e conformidade: como mostrariam mais tarde experimentos clássicos (Milgram, Asch), pressões de autoridade e pares foram determinantes. Numa cultura em que discordar significava risco de carreira ou de vida, a espiral de silêncio predominava.
Direitos Humanos como antídoto ético
O caso nazista mostra que, sem respeito aos Direitos Humanos, a psicologia – assim como outras áreas da saúde – pode se tornar instrumento ideológico, autoritário e totalitário. Na Alemanha Nazista, toda barbárie e carnificina era legitimada por regulamentações, portarias, leis e decretos. Por isso, é essencial defender os Direitos Humanos em sua essência, em especial os Direitos Naturais de individualidade, liberdade, propriedade e vida. Abaixo, os Direitos Humanos frequentemente violados em ditaduras:
- Liberdade de expressão: profissionais devem poder pesquisar, ensinar e clinicar sem medo de vigilância, controle ou retaliação. O debate público, a crítica responsável e a pluralidade de ideias são indispensáveis à ciência e à democracia. Ninguém pode ser obrigado a concordar com uma ideologia sem evidências científicas ou se calar diante do que percebe como errado.
- Diversidade: valorizar múltiplas culturas, identidades e abordagens teóricas, visando sempre à inclusão das minorias. Nenhuma escola, crença ou visão de mundo deve se impor como única legítima. A ciência não admite dogmas, ideologias e politicagem, pois deve existir espaço para questionamento, diversidade e debate.
- Autonomia: nenhum profissional deve ser coagido a aderir a partidos, sindicatos, ONGs, religiões ou ideologias para poder exercer seu trabalho. Pacientes também não podem ser forçados a tratamentos ou decisões contrárias à sua vontade. Liberdade de escolha e responsabilidade ética são princípios fundamentais que preservam a vida e a dignidade.
- Subversão dos Direitos Humanos: termos eufemísticos vagos como “medidas de segurança”, “responsabilidade coletiva” ou “proteção da saúde pública” não podem mascarar doutrinação, autoritarismo e totalitarismo. Os Direitos Naturais (individualidade, liberdade, propriedade e vida) são essenciais para que os Direitos Humanos não sejam distorcidos por ideologias tirânicas, como o nacional-socialismo.
Conclusão
A psicologia na Alemanha Nazista revela, para além de curiosidades históricas, a gravidade de se afastar dos Direitos Humanos. Dentro das instituições alemãs, os profissionais de saúde, professores e burocratas acreditavam estar defendendo a ciência, a moral e o bem coletivo. O discurso eufemístico vago de higiene social, prevenção e aperfeiçoamento raciais legitimava a vigilância, o controle e a punição. A obediência ao Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores (Partido Nazista) foi apresentada como virtude e os Direitos Humanos subvertidos como “defesa da democracia” (Volksgemeinschaft). Faça Terapia Cognitiva-Comportamental Online no WAF Psicologia.